As exportações brasileiras para a China irão bater recordes em 2020, com 11% a mais do que em 2019. O fluxo de comércio, isto é a soma das exportações entre o Brasil e a China irão chegar a US$ 115 bilhões, de acordo com projeções do próprio Ministério da Economia.
O país asiático já é nosso principal parceiro comercial desde 2009, quando ultrapassou os Estados Unidos. E nós ainda temos uma grande vantagem: exportamos US$ 34,6 bilhões a mais do que importamos de lá.
Essa conta é devido ao fato de a China é o principal destino da soja brasileira, em especial a produzida em Mato Grosso. Também compra milho, minério de ferro, carnes suínas e de aves e petróleo. Isso faz com que seja também um dos principais parceiros comerciais de Mato Grosso.
Neste ano de pandemia, a China abocanhou a maior parte da soja produzida. Em setembro, 99% da safra já estava vendida. Para os produtores foi um excelente negócio, pois o dólar estava e ainda está supervalorizado. No entanto, a falta de um estoque regulador fez com que o preço do óleo de soja explodisse e pela primeira vez em dez anos foi preciso importar o grão dos Estados Unidos para atender a demanda interna.
Essa parceria de sucesso, no entanto, está sob ameaça, e não por razões concretas, mas por bobagens do Governo Federal. Mais especificamente de Jair Bolsonaro, seus filhos e alguns notáveis como o ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo. Seja por ignorância ou por subserviência com a política americana, a China tem sido alvo de ataques histéricos e fake news fanfarronas.
Desde o surgimento do novo coronavírus e a tecnologia 5G, o que não tem faltado são acusações infundadas e teorias conspiratórias de fazer inveja a franquia de filmes Missão: Impossível.
O último tiro no pé foi feito em rede social pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, que preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara Federal. A embaixada da China no Brasil respondeu de pronto as acusações do filho do presidente, também pelas redes sociais, demonstrando que os representantes chineses – e seus governantes – estão cansados dos ataques do governo do brasileiro.
Muitos dizem que esses ataques não trarão problemas comerciais para o Brasil, pois a China precisa das nossas commodities. Não é bem assim, a China tem a possibilidade de buscar novos parceiros, especialmente em relação a soja, perspectiva que pode atingir especialmente Mato Grosso. Especialistas do setor apontam que um desses fornecedores de soja para a China poderia ser a Austrália.
Outro ponto preocupante, na relação Brasil-China, é o posicionamento do presidente americano eleito Joe Biden, que assume em janeiro de 2021. Ao contrário de Donald Trump, Joe Biden tem uma postura diplomática multilateral e menos agressiva e provavelmente irá atuar para melhorar as relações EUA-China. Representantes do agronegócio temem que essa melhoria nas relações afete a entrada da produção brasileira de grãos no mercado chinês. Produtores dos Estados Unidos e do Brasil disputam o mesmo mercado, concorrendo em produtos como soja, milho, algodão e carne. A melhoria das relações entre EUA e China poderá deixar os produtos brasileiros em segundo plano.
Políticos, representantes do agronegócio e analistas afirmam que governo Jair Bolsonaro precisa buscar moderação e pragmatismo diplomático com a China para assegurar o desempenho na balança comercial.
O Brasil precisa da China muito mais do que os chineses precisam da gente. Podemos e devemos buscar novos parceiros comerciais, mas para isso é preciso muita diplomacia, o que não tem sido o nosso forte nos últimos dois anos. Caso a China reduza significativamente a importação dos grãos brasileiros o prejuízo será incomensurável, com os preços das commodities nacionais reduzindo consideravelmente.
Em um ambiente de negócios internacional em que cada centavo de dólar é fundamental e que as transações são negociadas com meses de antecedência, cada disparate do governo Bolsonaro é uma pá de cal na economia brasileira.